quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

PAZ

Da renitente posição estratégica
Do homem mergulhado em trincheiras,
A levantar-se com os olhos e ver todo o seu derredor,
Apontado o arpão dizimador,
Recolhendo com gancho
Os pratos vazios, lambidos.
Lançado ao chão, sob qualquer passante,
Chamas ensurdecedoras, que queimam cinzas,
Erguendo a ira com guindastes pesados,
Esquecendo as visões que tiveram no espelho
Do último barbear.
Dos contra-apelos de paz ouvidos,
Como choro insistente de criança faminta
Dos lamentos dos viúvos
Que não dormem, sós.
Do abate em série de homens
Confundidos com formigas,
Dos sequiosos dentes de vampiros sedentos,
Da ignorância estampada nos olhos dos protagonistas
Da comércio de cacos de espelhos
E de pentes sem dentes,
Da desistência dos que,
Desnecessários, vêem em tudo ido,
Tão repulsa a alma em permanecer por aqui.
Da trêmula, medrosa, bandeira de paz,
Que já faltam mãos que a agarrem,
Da resolução de Deus, largar,
Sem comoção a postura burra e dura dos carnívoros,
Do vazio que já se anuncia perto,
Tetos que não guardam ninguém,
Braços de caniços,
Incapazes de irem à boca,
De cogitarem um abraço ao vento.
Talvez surgirá a paz
O sonhado território isolado,
A improvável situação que ninguém busca.
Talvez um mundo calmo,
No qual não se ouvirão passos,
Vozes não se identificarão.
E só ela reinará, absoluta,
Como se fosse a astuta,
E ambiciosa, que só sabe viver só.

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